Sunday, November 30, 2008

O que foi, o que é

Verónica tinha acabado de acordar. Era cedo, mas não tinha mais sono e pensou que o melhor seria começar o seu dia.

Foram precisos apenas dez minutos para voltar anos e anos atrás no tempo. Para voltar a sentir tudo o que tinha sentido, para estar também presente na cena. Cena que trazia à memória e aos sentimentos mágoa, tristeza e dor de actos em que tinha ela própria sido figurante.

Ali, imóvel, com o corpo trémulo e o coração com palpitações a mil por segundo sentiu vontade de saltar para dentro da cama e tapar-se com os lençois, ou esconder-se debaixo de uma mesa tal como fez um dia quando criança, pensando que se não via ninguém, também, ninguém a veria. (raciocínio de criança que hoje lhe coloca um sorriso nos lábios ao ver o quanto inocente era).

As lágrimas ganharam vida própria, escorriam pela cara, não as conseguiu evitar, não as quis evitar, tinham que sair.

Respirou fundo, observou a cena, viu-se de fora, centrou-se na sua respiração e pensou que tudo o que um dia foi, tudo o que um dia viveu, faz parte do que hoje é. Ao fim ao cabo sabe que escolheu experienciar tudo o que foi. Sabe que isso foi essêncial para ser o que é, para estar onde está, para ser quem é.

Sorri.

Gosta do que é. Isso basta-lhe para sentir gratidão por todos os anjos que com ela partilham experiências, sejam de dor, sejam de contentamento. Ela sabe que a presença deles é fundamental no caminho.

Sabe, e é feliz!

Por agora é tudo...
...eu volto!

Beijos serenos,
Dark Moon

Wednesday, November 19, 2008

O menino que perdeu a alma...


Ali estava ele, imóvel, com a cara fria do vento que havia horas lhe soprava no rosto.

Olhando para baixo apenas via um azul de águas cristalinas de mar. Respirou fundo e recordou-se de todos os momentos que o tinham feito chegar até ali...

Desejou voltar a trás...

Subir a uma árvore e ali permanecer umas saborosas horas, brincar às escondidas sob uma noite escura e estrelada, entre as palmeiras que estavam à porta da casa de sua mãe. Quando fechava os olhos ainda as conseguia ver. A da direita era um pouco maior que a dar esquerda, mas em breve ela iria apanhar a outra em tamanho. Teve saudades de se esconder nas palmeiras.

Todas essas memórias, não passavam disso mesmo. Fragmentos de uma história. A sua hitória!

Naquele instante questionou-se acerca de todas as questões filosóficas que um dia leu nos livros, lembrou-se das tertúlias, das longas discusões literárias, cinematográficas e afins que tinha uma vez por mês. Dos temas que sugiam na mente, das questões que o inquietavam, mas também das que o alegravam, e de como o tempo passava quase sem dar conta. Apenas sabia que a noite tinha acabado e dado lugar ao dia quando o despertador tocava e todos olhavam como que a dizer: "é o sinal de que a tertulia acabou por hoje. É o nosso conhecido sinal horário do término da tertúlia".

Todas essas memórias apareceram de repente, mas num ápice se dissiparam, como se uma borracha tivesse passado por cima delas. Nessa atura sentiu que tinha perdido a sua alma. Era um corpo, um pedaço de carne, uma forma física de matéria. E só isso!

De repente ouve o som de um pedra que cai sobre o mar, ao seu lado encontra-se uma criança de aproximadamente sete anos, traz consigo um cão e propositadamente atira pedras e faz recochete com as mesmas.

Um menino olha para outro menino, nessa criança vê o seu próprio espelho, diz-lhe olá e no momento seguinte estão os dois a atirar pedras ao mar, o cão ladra como que se estivesse a fazer uma sinfonia, ao longe ouve-se o uivar de outros companheiros de quatro patas.

Quando se baixa para apanhar mais pedras, olha e não encontra o menino, procura mas não o vê, na verdade ele encontra-se dentro dele mesmo. Ele é o menino!

Olha para o mar e a linha que cruza o horizonte. Dentro dele sabe que cada pedra atirada leva a esperança de um novo dia, de uma nova conquista, de uma nova tertúlia, de um novo amanhecer.

Fecha os olhos, saboreia o momento, respira fundo e vai para casa.

O menino reencontrou-se, reencontrou a sua alma.

Por agora é tudo!
... eu volto!

Beijos leves,
Dark Moon

Wednesday, November 12, 2008

A mensagem

Costumava trazer mensagens...

Vinham não se sabe bem de onde, mas eram mensagens que acalmavam. Que davam alento, que faziam o sol nascer na manhã seguinte.
Cada uma das mensagens peneravam nas artéias do coração, da mente, de todos os poros existentes num corpo muitas vezes corrompido pelo cansaço, desânimo de um mundo material.

Costumava trazer mensagens...

Os momentos em que partilhava as mensagens eram sempre de ternura, tal como uma mãe cuida de um filho e lhe dá os melhores conselhos.

Davam uma confiança para seguir, perceber e tomar consicência dos trilhos que se precorrem, das rotas que se escolhem, dos atalhos que se devem evitar.

Costumava trazer mensagens...

Naquela noite a mensagem veio, em foma de conselho, ela veio.

"Não desanimes nem te zangues" ouviu... curioso que o tivesse ouvido no dia em que o desânimo bateu à porta... não o podia deixar entar, não o queria deixar entar, não o ia deixar entar....

Costumava trazer mensagens...

Aquela podia ser a última mensagem, mas algo a fez sentir que mais mensagens haveriam...
A sugestão ficou, mensagem disfarçada tal qual uma tela pintada.

Costumava trazer mensagens...

Habituei-me a receber as tuas mensagens, vais continuar a trazer mensagens?

Costumava trazer mensagens...

Por agora é tudo...
... eu volto!

Beijos com aroma de flores,
Dark Moon

Wednesday, November 05, 2008

Olhos Verdes


Verónica tinha deixado de sentir o rosto.

A chuva caia sobre o seu corpo e deu consigo a pensar que aquele casaco tinha sido uma óptima aquisição, podia estar toda molhada, mas não tinha frio. .. ou então tinha deixado te sentir o que quer que fosse.
Estava centrada em tudo o que via, ouvia... a senhora a pedir esmola, o senhor de idade sentado na tasca da esquina, os carros a passar e apitar, a chuva a cair e formar poças...tudo isso deixou um desagradável desejo de desaparecer.
De apanhar um avião com destino a um país tropical cheio de sol, onde as pessoas riem por tudo, mas também por nada, onde as pessoas sao descomplicadas...felizes!

Depressa percebeu que estava a viajar... e sentiu a chuva no rosto, sentiu que tinha descido à terra, que estava perto do carro, que tinha ficado longe, muito longe, porque não sabe como enganou-se na morada...

Entrou, sentiu-se bem ao entrar e bloquear a chuva que continuava a cair lá fora. Olha para a sua pintura que traz junto ao espelho, precisava de alguma energia, pensou que ali a encontraria, mas ao invês disso apercebe-se que os seus olhos estão verdes. Verde escuro, cor que não gosta de ver nos seus olhos, porque na verdade os seus olhos só são verdes quando estão molhados... quando chora!

Não sabe porquê insiste passar os olhos por textos que sabe não lhe fazerem bem, mesmo assim insiste em imaginar-se receptora deles... lembra-se da palavras da Luz, imaginá-las realidade deixam-lhe triste, não quer!

À medida que os minutos passam também a clareza mental fica mais limpa, a chuva dá lugar ao sol, o céu de repente fica azul, tem umas nuvens brancas, mas está bonito, os seus olhos, agora castanhos, agradecem tal visão ao universo.

É hora de abrir a janela e deixar o sol entrar, sabe que o arco-irís lhe irá pintar o dia, pois afinal: "It can´t rain all the time"...

Por agora é tudo...
... eu volto!

Beijos Verdinhos:)
Dark Moon